Kawasaki Versys 1000: na onda da tecnologia

Fonte: Motociclismo Online

Texto: Ismael Baubeta
Fotos: Renato Duraes

A Kawasaki coloca a nova Versys 1000 na vanguarda tecnológica e ela chega com tudo para incomodar a concorrência.

Elas são altas, têm bom curso de suspensões, rodas de aro 17” (em muitos modelos), boa proteção aerodinâmica e, em geral, são muito confortáveis. As motocicletas do estilo crossover são excelente opção para quem gosta de passar muito tempo na estrada, mas com pouca aventura sobre terra, afinal seu tipo de configuração mais asfáltico, principalmente de rodas e pneus, limita esse tipo de utilização. Limitações à parte, ainda assim elas são muito agradáveis para rodar milhares de quilômetros sem esforço e também muito divertidas, motivo pelo qual cativam tantos motociclistas ao redor do mundo.

A Kawasaki Versys 1000 foi lançada em 2010 na Europa (em 2012 aqui no Brasil) para atender os fãs da marca que não encontravam em seu lineup uma opção com as características crossover. Para isso, a fábrica de Akashi aproveitou o motor de quatro cilindros em linha da Z 1000, amansou-o (de 150 cv para 120 cv) e, utilizando um chassi de dupla trave de alumínio, montou uma moto confortável e equilibrada, mas até então com poucos recursos eletrônicos. Nas duas únicas atualizações em 2012 (foi a versão que veio para cá) e 2015, as mudanças mecânicas não foram muito significativas e foi o design da Versys o que mais mudou. Agora a Kawasaki coloca à disposição dos viciados em moto e estrada, duas versões da Versys 1000, uma mais simples e barata e a outra, topo de linha, repleta de tecnologia e, lógico, mais cara. Foi com esta última que passei alguns dias rodando pela cidade e pelas estradas para fazer o teste desta edição e foi uma boa surpresa.

Falsa impressão

Olhando a Versys de fora, a impressão que se tem é de que ela é grandalhona e alta, mas basta subir nela para rever os preconceitos e confirmar que não é nem uma nem outra coisa. O banco está a apenas 820 mm do chão, e apoiar os pés não é tarefa para grandalhões, nem fator de estresse. O que pode atrapalhar na subida (até você se acostumar) são as malas laterais e o topcase, mas há espaço de sobra para a manobra. Ao rodar na cidade tirei as malas para evitar esbarrões.

O banco é macio e muito confortável, tanto para o piloto como para o garupa. A ergonomia condiz com a proposta de rodar muitos quilômetros por dia e as pedaleiras pouco recuadas e o guidão em ótima posição tanto na altura como na distância até o piloto oferecem conforto. A parte dianteira do banco (e a de trás do tanque) ficaram mais estreitas, proporcionando bom encaixe das pernas. O conjunto ficou mais esguio e a pilotagem foi facilitada.

Design arrojado

No design, a nova Versys 1000 também está muito mais atraente e, segundo a fábrica, mais eficiente aerodinamicamente graças às linhas mais afiladas, defletores na carenagem e ao maior para-brisa (ajustável manualmente). Se comparada à primeira versão, nota-se que nasceu em outra era ou os engenheiros foram substituídos por outros mais arrojados. Mas a versão GT tem muito mais do que um rostinho bonito.

Com ela, a Kawasaki entra definitivamente no seleto grupo das motocicletas tecnologicamente mais avançadas, passando a concorrer com motos da estirpe de BMW R 1200 GS Premium e S 1000XR ou Triumph Tiger 1200 XR. Por ser a última a chegar e ter a referência da concorrência, os engenheiros puderam deixá-la no rol das mais equipadas do segmento, com itens tecnológicos superavançados.

Tecnologia e dinâmica

Eu quis testar imediatamente a primeira tecnologia que me chamou a atenção o Rideology, um aplicativo de celular desenvolvido pela marca com o qual é possível entrar nas configurações de informações do painel da motocicleta e de seus ajustes, entre outros tantos que ficam gravados para posterior conferência, com trajetos, velocidades, etc. Com ele também é possível visualizar chamadas e mensagens no celular no lindo e completo painel colorido em TFT, tudo via Bluetooth.

Um poderoso hardware inercial (IMU) permite controlar parâmetros do motor, reações e movimentos do chassi (em seis eixos), suspensões e rodas, para informar a ECU (Central Eletrônica) da moto e comandar os diversos dispositivos de segurança, como KCMF (Kawasaki Cornering Management Function), que é responsável por controlar e modular a potência dos freios e a potência do motor, interagindo com o sistema eletrônico de suspensão (KECS, Kawasaki Eletronic Control Suspension) e o KIBS (Kawasaki Intelligent anti-lock Brake System) ou ABS, para corrigir trajetórias ou diminuir riscos em situações de pouca aderência ou pânico com a moto inclinada.

Em cada um dos quatro modos de pilotagem da Versys os pré-sets de motor combinam com as suspensões e demais controles, autoajustando-se de acordo com eles. O modo Rider permite customizar e desligar alguns dos controles. É interessante sentir a moto “segurar” a roda traseira aumentando o freio motor ou dosando o freio traseiro automaticamente, fazendo com que a moto feche uma trajetória muito aberta, o que, por um lado é ótimo para a segurança, mas, por outro, também é bom poder sentir-se 100% no controle.

Quatro em linha de responsa

O motor de quatro cilindros em linha ficou mais suave e lisinho na tocada, embora seus números absolutos de potência e torque não tenham mudado. Agora um comando eletrônico de válvulas ajuda na suavidade das respostas ao acionar o acelerador eletrônico.

Na prática, os quatro cilindros oferecem suavidade para rodar tranquilamente em baixa velocidade independentemente da marcha engatada, sem cabeçadas nem vibração, mas, se enfiar a mão e começar a bater o pé no pedal do câmbio para aproveitar a velocidade nas trocas graças à assistência do quick-shift, você vai se sentir em uma moto com caráter esportivo, vibrante e, sem perceber, estará sorrindo dentro do capacete. Com giros mais baixos, os engates com o quick-shift tornam-se mais duros. É fácil se empolgar e querer ouvir o barulho da admissão. Agora os corpos de borboleta estão em posição quase vertical, ajudando a alimentar de forma mais direta e eficiente os quatro canecos.

Ação e reação

Há uma reação eletrônica da moto, em nome da segurança, de correção caso você faça alguma ação estilo “cagada”, bom para alguns, mas pode soar demais para um piloto experiente e que gosta de sentir a essência da moto. Para estes, é só deixar no modo Rider e customizar todos os parâmetros. A Versys 1000 GT é capaz de proporcionar uma viagem pacata e contemplativa, mas também pode lhe oferecer doses extras de endorfina, contornando curvas com apetite e muita estabilidade, fundamental para agradar todo tipo de motociclistas.

Exagerei um pouco mais para sentir os controles e, é perceptível a suavidade no funcionamento do controle de tração e do ABS – o nível de refinamento está cada vez maior. As suspensões funcionam bem e exigem o correto acerto, seja pelo modo de pilotagem ou pelos ajustes à parte, pois no modo Sport, por exemplo, elas enrijecem demais para o rolé pelas nossas ruas de pavimento lunático. Acostume-se a ajustar as suspensões com toques na tela do celular, o que é mais fácil, e não mais com cliques feitos com a ponta de uma chave de fenda.

Parada

O sistema de freio também evoluiu. As pinças são radiais de quatro pistões e mordem discos de 310 mm de diâmetro na dianteira, têm pegada forte e oferecem bom tato, transmitindo confiança e segurança nas frenagens sem intromissão exagerada do ABS. Atrás, o disco de 250 mm e pinça de pistão único participam com mérito na operação de frenagem. É difícil não esquecer de algum acessório ou equipamento nesta Kawasaki.

Além dos que eu já citei, você tem a disposição: piloto automático, assistência e câmbio quick-shift, painel em TFT, iluminação em LED, faróis auxiliares de curva (enquanto você vai inclinando a moto as quatro lâmpadas vão acendendo), aquecedor de manoplas, protetores de mãos, slider no eixo da roda dianteira e no chassi, para-brisa ajustável, cavalete central (facílimo de erguer) e, até a pintura é diferenciada, pois, segundo a fábrica, ela é capaz de “cicatrizar” pequenos arranhões e marcas de uso. Sem dúvida a Kawasaki colocou a Versys 1000 em outro patamar de tecnologia e agora pode-se dizer que é a moto mais bem equipada nessa faixa de preço.

Pontos positivos
• Ergonomia
• Respostas
• Eletrônica

Poderia ser melhor
• Regulagem do para-brisa

CONCLUSÃO

Sem dúvida a Kawasaki levou a nova Versys 1000 GT a outro patamar, incorporando muita tecnologia eletrônica, ainda que não inédita nem difícil de encontrar, mas as motos concorrentes que incorporam semelhante tecnologia, invariavelmente são mais caras, caso das BMW R 1200 GS Premium TFT, S 1000 XR, da Triumph Tiger 1200 XCA, da Ducati Multistrada 1260 S ou ainda da KTM 1290 Super Adventure S. A Versys 1000 GT é barata e tem tanta eletrônica e tecnologia quanto elas, por isso tem tudo para ser um sucesso e agradar um número enorme de motociclistas que amam viajar, mas que não fazem questão de rodar no fora de estrada.


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *